Sunday, February 21, 2016
Abutres e mais nada
Será possível que a CMTV (fora outros jornais e televisões) esteja a cobrir o velório e o enterro das pequenas assassinadas pela mãe em directo, como se de um desafio de futebol se tratasse?
Infelizmente todos os velórios se parecem, por isso o único fito de tal "assistência" é mesmo transcrever os brados de dor (termo adorado pela imprensa sensacionalista) que algumas pessoas inevitavelmente soltam para fazer delas manchete ao estilo carpideira para a versão em papel, algo em que são useiros e vezeiros. E/ou estar à espreita, ansiosos por alguma altercação entre as famílias.
Quando vejo cenas assim, só me ocorre pensar "espero que familiares e amigos tenham uma classe e auto-domínio sobre-humanos para não lhes darem tal satisfação; haviam de sair de mãos a abanar!" e "como é que não pedem à polícia que os corra dali, ou não tratam disso pessoalmente, a pontapé se for necessário?".
Que eu percebo que os pobres jornalistas estejam a fazer o seu trabalho, a sério. Já estive no lugar deles (tive sorte e alguma diplomacia para evitar fazer esses papelões, felizmente) mas quem dirige as operações não tem consciência. Não digo que não noticiassem, mas o dia todo? Isso não é procurar informação. É procurar drama. É sobrevoar a desgraça, ansiosamente à espera de alguma saborosa escandaleirazinha.
É ser pior que o Gato Pingado e os urubus do Lucky Luke, que ficavam todos contentes sempre que havia tiroteio ou linchamento. Mas num caso assim, é de um mau gosto puro. Da ética já nem falo: nem sei para que incluem a cadeira de deontologia nos currículos, já que toda a gente parece mandá-la às urtigas mal põe os pés fora da faculdade. Creio mesmo que é muito difícil a um jornalista sério, a uma pessoa íntegra, conservar o seu emprego nestes meios nos dias que correm. Como?
1 comment:
- Portuguesinha said...
-
A solução não está nos estudantes que deitam a "deontologia" às urtigas. São os superiores que definem a linha de acção.
Não foi o velório do Eusébio igualmente televisionado?
A meu ver mais de metade do que se vê hoje nas tvs não é notícia. E acho estar a ser amável. Sempre gostei de noticiários curtos e grossos - como os que passavam por volta da meia-noite na RTP, quando as TVs ainda se dividiam em... RTP, rsss! Mas mesmo qd apareceram as outras, a essas horas os noticiários eram mais concisos e dispensavam o que era supérfluo.
Nesse aspecto, a rádio JAMAIS morrerá. -
21 February, 2016 20:48
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