O canal CBS Reality, não sei se já espreitaram, tem alguns programas interessantes sobre ciência forense, genealogia e locais assombrados. Depois há o reverso da medalha, como as séries sobre médiuns que (devidamente equipados com o kit completo de caça-fantasmas) vão investigar casas atacadas por poltergeists ou almas penadas de serial killers: arregalam os olhos, afirmam "ai que ele está aqui, ai que eu estou todo arrepiado", juram aos pés juntos "o espectro do Ted Bundy puxou-me o cabelo" mas nunca provam rigorosamente nada porque os fantasmas, como quaisquer membros da sua classe que se prezem, só aparecem quando não há câmaras por perto - ou pelo menos, quando não estão devidamente prevenidos pelo escarcéu que estes "profissionais do outro mundo" fazem na sua "pesquisa". Fosse eu fantasma (cruzes) e também me escondia...isto se não adormecesse, porque além de pobre, o formato é aborrecido de morte.

Mas o piorzinho dos seus programas, tão mau que ainda não decidi se supera a Casa dos Segredos no top do trash TV ou se andam empatados, tem de ser Cheaters - espécie de agência de detectives dos classificados Correio da Manhã, investigamos (nada) discreta e honestamente casos de infidelidade conjugal, versão reality show. O modelo é simples: amantes ou esposos desconfiados (todos com o pior e mais carenciado ar possível, comme il faut) recorrem à "agência" para comprovar as suas suspeitas. Digo comprovar porque do pouco que vi - com a mesma curiosidade mesclada de horror que se tem por qualquer visão assustadora - nunca houve um "suspeito" que passasse o teste.
Esta pérola é apresentada por um autêntico malandro com cara de fuinha e aspecto de cangalheiro misturado com vendedor agressivo de colchões ortopédicos, que faz um ar compungido mas está claramente mortinho por atirar achas para a fogueira. Encenado ou não, parece que já foi apunhalado no cumprimento das suas "funções", por alguém que lhe quis ensinar a não meter o nariz onde não era chamado...
O que mais me intriga, no entanto (ainda que as histórias sejam criadas por guionistas) é o discurso dos supostos enganados: homens ou mulheres, a conversa é a mesma.
" Já não me liga... não é a primeira vez que o (a) apanho...passa as noites todas fora e gasta-me o dinheiro todo...vem para casa a cheirar a perfume alheio...apanhei-lhe mensagens da Maria ou do Manel... ainda por cima não me trata bem e dá -me tareia...mas quero salvar o meu casamento" blá blá blá, por aí fora.
O caricato é que já ouvi muita conversa desta na vida real, e que não vinha de pessoas com mau aspecto como os integrantes do programa. Se faz quá quá como um pato, anda como um pato e nada como um pato, provavelmente é um pato. Uma pessoa que trata mal, não presta para coisa nenhuma, já deu provas de não ser de fiar e só falta comprovar se ainda por cima é infiel, não é "tesouro" que valha a pena guardar. E no fim - quer na TV, quer realidade - ainda há os que dão ao traidor(a)-apanhado(a)- com -a-boca-na-botija a hipótese de escolher "ou eu ou ela (e)", como se isso fosse hipótese em cima da mesa numa situação dessas. Viva o luxo, e a vocação de muito boa gente para tapete, ou para salvar o que não tem salvação possível.
Precisam de quê? De um desenho? Ou do golpe de misericórdia para caírem na realidade? De ir ao fundo da questão - chamando um detective, ou por conta própria, fazendo em todo o caso figura de urso - só para ter uma certeza que a lógica confere sem muito trabalho? Palavra que não percebo a paciência (ou o medo da mudança, ou a fé cega) de certas almas...